Mestrando: Téo de Miranda
Orientadora: Patrícia Ozório
O presente texto pretende apresentar minha experiência
vivenciada durante atividade proposta na disciplina Tópicos Especiais em Poéticas
Contemporâneas II: Atrações Temporárias ministrada pela professora Maria Thereza
Azevedo na UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso). Nesta disciplina foi sugerida
a realização de uma intervenção urbana, que denominou-se República do cochilo. Através
dos processos colaborativos e da fruição artística de cada estudante pôde-se
alcançar impressões sobre a cidade e seu cotidiano desenfreado.
A intervenção
contou com vários momentos, regados a sombrinhas que refletiam sobre a
falta de árvores na cidade verde até a banca do desabafo, onde o cidadão
pudesse expor seus pensamentos/emoções.
Distante dali
Enquanto a turma de mestrado realizava sua intervenção em algumas praças e no 'Senadinho' em Cuiabá, eu estabelecia também neste dia 5 de junho de 2013, minha observação diante da intervenção denominada ''retomada'' realizada pelos indígenas Terena no município de Aquidauana - MS, mais precisamente em um Distrito desta cidade, denominado de Taunay, que é composto por aldeias indígenas e fazendas de criação de gado.
A partir das
leituras de sala de aula, da intenção da intervenção república do cochilo e da
minha experiência com os Terena, procurarei aqui trazer a luz diversas questões
para se pensar a cidade em contraponto a retomada. Ou
seja, aplico o pensamento situacionista no contexto em que eu estava inserido
naquele momento e a modificação desses espaços em lugar de/em espaço da
revelação, da crítica e da transformação. (SILVA, 2008).
Embasando-me no interesse dos
situacionistas pelas questões urbanas como terreno de ação, de produção de
novas formas de intervenção e de luta contra a monotonia, ou ausência de paixão,
da vida cotidiana moderna.
O desenvolvimento das cidades, o crescimento dos mercados globalizados e a expansão dos latifúndios, afetam diretamente as populações indígenas, que vem sofrendo com a perda dos seus direitos a terra e interferindo no modo de vida tradicional.
Estava eu ali, então em uma retomada de
terras, realizada pelo povo Terena num
Distrito de uma cidade. Sobre este povo, é interessante observar que estão em trânsito
entre as cidades e as aldeias, para buscar formas de subsistência já que trata-se
de um povo comerciante e com facilidade de diálogo com o não indígena, e muitos
deles trabalham e estudam nas mediações das aldeias.
Segundo Guy Debord, o movimento situacionista
propunha a apropriação dos espaços, a criação das situações, a mudança do curso do caminhar e do
olhar ela. Ao realizar a leitura deste trecho destaco uma palavra chave para explicar
a motivação dos movimentos de retomada Terena. Destaco então:
Propunha
a apropriação dos espaços: historicamente esses espaços onde acontecem
as retomadas Terena, pertenciam a este povo até a guerra do Paraguai. Enquanto os Terena lutavam pelo Brasil junto as tropas brasileiras, esses espaços foram vendidas e cedidas pelo Estado aos latifundiários sem consulta as
comunidades indígenas. Nos dias atuais
os Terena buscam se reapropriar desses espaços ancestrais. Na fala de uma
senhora Terena, ela explicita que 'a retoma não acontece para requerer os bens
dos fazendeiros e sim para requerer o que é nosso (do povo Terena)'.
Outra relação que faço da retomada ao pensamento dos situacionistas, esta
no fato deles (os situacionistas) terem percebido que não seria possível propor
uma forma de cidade pré-definida, pois segundo suas próprias idéias, esta forma
dependia da vontade de cada um e de todos.
No caso da comunidade indígena se trata de uma terra coletiva. Vê-se que toda a composição do local foi
modelada de acordo com a vontade e consenso conjunto de cada indígena ali
presente, movidos pela cultura tradicional do espaço e suas habitações e também
atendendo a necessidade de cada família ao compor o espaço, para que atenda a necessidade de todos
ali presentes. A utilização da terra por
parte dos fazendeiros é uma apropriação individualista, onde se prioriza a
produção de bens e consumo, com base na criação do gado e a exploração de mão
de obra.
É isso
que as retomadas pretendem. revolucionar o cotidiano 'machucado' das terras
ancestrais. Propor uma intervenção política, de transformação geográfica e cultural,
respeitando o tempo vivenciado por aqueles habitantes. Um tempo, que se
relaciona com as cidades próximas, mas que, seguem um fluxo de pensamento
diferenciado.
Interferindo
Estive
na retomada com a função de realizar o registro de foto e vídeo e posteriormente
editar este material e disponibilizar na internet para que as 'cidades' tenham
acesso ao conflito. Essa ação aconteceu no dia em que existia a expectativa da
chegada da Polícia Federal para reintegração de posse, ou da força nacional com
a missão de amenizar os conflitos. Felizmente tivemos a visita da Força
Nacional, que presenciou de perto a situação deste povo e pôde dialogar com a
comunidade.
Encanto - olhar estrangeiro
O meu encanto
aconteceu ao ver a força de vontade de ocupar e cultivar uma terra ferida pela
exploração dos seus recursos, já que a criação de gado enfraquece o solo (nas
palavras dos próprios Terena) para a plantação, porém que carrega valores
simbólicos e de memória ancestral.
Referência bibliográfica
JACQUES, P. B. . Urbanismo
à deriva: pensamento crítico situacionista. In: VII Seminário de História
da Cidade e do Urbanismo, 2002, Salvador, 2002.
SILVA, Regina Helena Alves da. Cartografias
Urbanas: construindo
uma metodologia de apreensão dos usos e apropriações dos
espaços da cidade. Visões Urbanas - Cadernos PPG-AU/FAUFBA Vol.V - Número
Especial – 2008.
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