Ivoneides
Batista Amaral
Em
sala de aula falamos muito sobre, cidades, praças e intervenções, a teoria nos impulsionou a prática e a experiência, que possibilitou
um conhecimento real da performance, os riscos e as experimentações; Nos
desvendou um outro olhar sobre a cidade, a Praça da República e as pessoas que
nos eram anônimas, mas que naquele momento passaram a fazer parte do grupo. Na
contramão do fluxo da modernidade, da cidade que não para, instalamos a
proposta de compor a “República do Cochilo”, onde as pessoas podiam parar,
conversar, se expressar, saindo da contemplação para a participação efetiva. O
espectador participador é o agente da experiência.
Mãos
a obra, vamos intervir no espaço público aberto a exploração criativa, na praça
desde o momento de montar a República do
Cochilo, muitos transeuntes perguntavam o
que ira acontecer aqui? Por quê? Para que? Para quem? E a resposta era simples é uma intervenção,
estamos ocupando a praça e ela de nós pode se ocupar também. Para Bakhtin
(2009: 101) a praça pública é um espaço comum, “o lugar onde o povo assume a
voz que canta”. A praça é o espaço não segmentado aberto à cotidianidade e ao
teatro, mas um teatro sem distinção de atores e espectadores; Um espaço onde
são tratadas diversas linguagens, as pessoas se propõe a vários tipos de
comunicação, é o lugar na cidade privilegiado para realizar ações
participativas.
Foto: Eveline Teixeira |
Para
ocuparmos a praça da república levamos alguns aparatos que nos deram suporte para
acontecer à tarde do cochilo sendo, colchonetes, redes, cadeiras e revistas.
Que foram distribuídos de forma que as pessoas ficassem a vontade para usar, desde
a primeira ação da montagem do espaço já havia a interação com as pessoas que
por ali estavam passando, esperando ou simplesmente estavam ali. Para Lygia
Clark (1960), “os objetos tem sentido quando manuseados pelos indivíduos”,
evidenciando-se como estruturas vivas ou organismos relacionais, nos posicionamos receptivos ao público.
Entre
os vários acontecimentos e ações, tivemos o momento do desabafo, espaço onde as
pessoas faziam suas reflexões e idealismos de mudanças, tanto para a sociedade,
quanto para sua vida expondo suas expectativas ou “sonhos” a serem realizados e
a ação acontecia a “deriva”.
Foto: Eveline Teixeira |
O cenário da praça nesse dia tinha outra
significação, com objetos que dela não fazem parte no seu cotidiano. Os
transeuntes foram muito receptivos a
novidade, usaram não somente os objetos, mas interagiram com o grupo, expondo
suas ideias e partilhando os objetos. Alguns
aproveitaram para dormir no aconchego das redes e dos colchonetes. E o grupo “performou”
com conversas, acolhidas, muitos
sorrisos que aproximaram os transeuntes e aos que ocupam o espaço da praça como
seu. Observações de caráter geral foi apenas um dos muitos elementos que
alimentaram as práticas urbana situacionista; deve-se também levar em consideração sua crítica à cultura de consumo e suas múltiplas conexões com outras
manifestações culturais e políticas.
O
termo performance é tão genérico quanto as situações nas quais são utilizadas,
na vida e na arte a palavra transita em muitos diálogos. A referência mais
comum é a utilização do corpo, como parte construtiva da obra de arte, em
formato infindável, baseada em uma ação ao vivo, visto por um público em um
lugar e horário determinado e específico.
Ao
ocuparmos a praça, praticando uma ação coletiva com a intervenção do público,
nos possibilitou a contaminação com o espaço e com as pessoas. A visão e a
expectativa que criamos em sala de aula nos estudos teóricos, somente foram
possíveis através da prática e do contato com o outro. A noção de performance como procedimento que
se prolonga também no participantes.
Foto: Eveline Teixeira |
A
tarde no momento de desabafo, pessoas conhecidas e desconhecidas em seu universo particular, veio nos contagiar com tantas
histórias, noticias e tantos acontecimentos, cada um diante da sua
realidade relatou, seus sonhos, lutas,
dores, desejos de curas, e mudanças de dias melhores. Desse modo se distende a
noção de performance como algo aberto e sem limites, resultando num número
variável de concepções.
Ao
conversar com várias pessoas muitas relataram, problema de saúde e tratamento
de câncer. Uma senhora que por ali passava, disse: “ eu gostaria de participar desse momento na praça, mas minha dor é maior que minhas vontades”. Assim como está senhora vários transeuntes
passaram e fizeram o mesmo desabafo “ tenho dor” de forma dita ou expressiva, e
a Doutora Maria Thereza de Azevedo comentou “o
mundo esta doente, as pessoas estão doentes.” Complementando a realidade
vivida e experiênciada por muitos.
A deriva, partilhando
o momento com o outro que passa a fazer parte do grupo, que levou a sério o ato
público de partilhar sua vida em um momento de manifestações e conquistas que o
país sai às ruas. Para Guy Debord:
A
deriva se apresenta com uma técnica ininterrupta através de diversos ambientes.
O conceito de deriva está ligado indissoluvelmente ao reconhecimento de efeitos
da natureza psicogeográfica, e à afirmação de um comportamento
lúdico-construtivo, o que se opõe em todos os aspectos às noções clássicas de
viagem e passeio.( Guy Debord, 1958).
Para que o ato performático acontecesse, ouve
um auxilio mútuo, entre os participantes, foi possível um diálogo informal com
os colegas do grupo, uma aproximação antes não experimentada, passamos a
conhecer o outro e interagir em grupo, suas ideias e trajetórias da vida
cotidiana. Allan Kaprow, fala da necessidade de conversar as experiências de
vida, podendo está se tornar materiais para uma ação futura e uma nova
arte. A integração entre o grupo se fez necessária
nesta ação coletiva, para que a intervenção acontecesse de fato.
A
experiência abordou a questão da intervenção urbana numa perspectiva processual
e compartilhada, além de retomar alguns
princípios de ocupação dos espaços urbanos. A extensão da ação como forma de
provocar liberdade e atuação de indivíduos que mediante a oportunidade de se expressar,
aproveitaram o espaço público de encontro e democrático na praça da república.
As pessoas ocupam esse espaço que se forma e se desfaz continuamente.
Bibiografia
BARBOSA, Eduardo Romero
Lopes. A Técnica do Détournement no Espaço Urbano: intervenções artísticas de
Marcelo Cidade e Gabriel e Tiago Primo.
DEBORD,Guy. Teoria da deriva 1958.
Texto publicado no nº. 2 da revista Internacional Situacionista em dezembro de
1958.
JACQUES, Paola Berenstein. Apologia da Deriva: escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de
Janeiro: Casa da Palavra, 2003.
KAPROW, Allan. performance e colaboração: estratégias para abraçar a vida como
potência criativa. / Thaise Luciane Nardim. Campinas, SP: [s.n.], 2009.
MARTÍN- Barbero, Jesús. Dos meios as mediações: comunicação,
cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2009.
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